III.
São os melhores pasteis de nata de Lisboa, melhores do que os de Belém, costumavam dizer. A fábrica ficava no rés-do-chão e o cheiro dos bolos quentes aguçava-nos o palato ainda antes de entrarmos no prédio, como que em jeito de boas-vindas.
Naquela tarde o miúdo ficou entregue à Dona Gracinda, mestre pasteleira, autora das iguarias mencionadas.
O apartamento da família ficava no terceiro andar. Brincou toda a tarde com carrinhos e bonecada diversa, estendido no chão. A Dona Gracinda passava a ferro.
No meio das brincadeiras, achou que seria interessante ensaiar o seu léxico, testando persistente, as duas palavras, avaliando o seu grau de homofonia numa cantilena improvisada.
Ao ouvir o relato da tarde, uma bofetada espontânea tomou forma e aterrou-lhe em cheio na boca ainda suja do palavrão.
Mãe, tenho um dente a abanar, olha!