Público alvo

Durante anos ouvi a expressão ‘público alvo’ com grandes reservas. É uma expressão explicitamente predatória que se traduz, por vezes, na interrupção persistente das pessoas, na manipulação da sua atenção, no controle dos meios de produção e dos canais de informação. Ao definir o ‘público alvo’ a priori,  sem qualquer tipo de interacção com quem nos propomos servir, acabamos por nos basear tendencialmente nos nossos próprios estereótipos sociais.

O conceito de ‘audiência’ soa-me mais aberto, expressa uma interacção mais bilateral, mais voluntária. Não significa que não haja uma segmentação do público, que não haja especificidade, talvez haja mais ainda uma vez que sugere um contacto mais próximo. 

Uma boa observação analítica, a aceitação neutra, factual da realidade é uma das premissas de coerência de qualquer das abordagens. Uma boa pesquisa vai informar a nossa projecção por forma a evitar propostas incongruentes, desfasadas, mas é a interacção recíproca contínua que verdadeiramente vai ajustar a nossa solução.

Na minha naivite idealizo a criação de uma audiência com a simplicidade de Quem põe a música a tocar, e vê quem aparece.

Qualquer das abordagens implica uma observação intencional, seja pela objectividade estatística, pela recolha de dados concretos sobre os hábitos e escolhas do nosso público, seja pela auscultação próxima, pela empatia. Em última análise temos que criar algo que seja valorizado pelas pessoas que servimos. 

É neste ponto que a controvérsia começa: a determinação do Valor. Deixo para já a reflexão em aberto.