Podes ligar-me?

Tinha já fotografado no Jardim da Parada dos Prazeres onde conheci a Maria, que generosamente me permitiu um retrato com os seus dois cães, no recinto do parque canino, e a Vanda (fotografias nos artigos de amanhã e domingo) que me falou um pouco da história do bairro onde vive há 55 anos, da epidemia de cães que se passeia pelo jardim desde março do ano passado – Eu quero ver o que acontece a todos estes cães quando tudo isto acabar! – das miúdas dos Salesianos que passavam sem máscara, do estado descuidado do jardim. 

Segui para o Jardim da Burra – um pequeno ‘abrigo’ discreto ao lado da Basílica da Estrela.

O próximo espaço no meu plano era o Jardim Elisa Baptista de Sousa Pedroso ou Jardim da Imprensa. Atravessei o Jardim da Estrela, passei pelo bar Outro Tempo (onde costumava ir há uns 25 anos atrás. e desci à Rua da Imprensa. Sentei-me num dos bancos do jardim para almoçar e inspirar um pouco o ambiente antes de começar a fotografar. 

Podes ligar-me? gritava uma rapariga obesa na outra ponta do Jardim. Atrás de mim alguém respondeu Posso claro! Diz-me o teu número. Não estúpido! Podes ligar-me a máquina? Estou farta de puxar o cordão e não liga. Ligou à primeira. A rapariga começou alegremente a aparar o relvado nas minhas costas, passando a escassos centímetros de mim. Aos dois funcionários da CML juntou-se um terceiro montado num pequeno trator e fui totalmente abalroado pelo som dos motores e pelos fumos do gasóleo queimado.

Quando me levantei intoxicado para mudar de lugar um deles ainda disse Deixe-se ficar.