A fotografia é uma narrativa não linear, por comparação com um livro ou um filme, por exemplo. É claro que num livro ou num filme também se pode desconstruir o tempo, mas ainda assim, a obra final tem quase sempre uma leitura linear.  

Na narrativa fotográfica, as imagens dispõe-se numa orientação não necessariamente cronológica,  não necessariamente da esquerda para a direita (de cima para baixo) ou o inverso. Uma imagem leva à outra, mimetizando, de certa forma, o próprio acto de pensar em que as referências se vão aglomerando, sobrepondo, evocando, por associações diversas e independentes do tempo.  

Há quem diga que o Presente não existe, da mesma forma que não existe um ponto numa recta, que apenas existe o que já passou e o que virá. Nesta acepção, viver o presente é como viver fora de tempo, não como num espelho que nos foge quando dele fugimos mas como numa fotografia que se estende para além de nós.  

“As pessoas compram coisas que falam sobre hoje e quando o hoje se torna ontem já ninguém vai ler aquilo:”

António Lobo Antunes