baixa frequência – parte 1

Enquanto fotógrafo, tendo a interessar-me por zonas periféricas. Penso que uma das razões está intimamente relacionada com a minha personalidade, por me sentir mais confortável enquanto observador do que enquanto alvo de atenção que não controlo. As outras razões são de natureza fotográfica. 

Se, por um lado, a distância me dá perspectiva, por outro, atrai-me a expressão mais orgânica, mais contrastada desses lugares. São zonas de transição, de aparente descuido e abandono, de utopias degeneradas por vezes. Não digo que estejam necessariamente à margem do sistema, apenas que tudo acontece de forma mais lenta e mais livre. São menos pessoas a circular, menos automóveis, menos lojas, menos manutenção, menos controlo. Sintetizando – são zonas que vibram numa frequência mais baixa. 

As leis da física ditam que os objetos orbitem de forma concêntrica em torno de um núcleo denso de energia e que, quanto mais afastados do centro mais tempo demoram a completar a sua órbita (penso naturalmente no átomo e nos sistemas planetários, por exemplo). Ou seja: quanto mais afastados, menor é a frequência a que giram. 

Isto parece ser também válido nas dinâmicas da cidade, sendo que no centro as interações são muito frequentes, decrescendo à medida que caminhamos para a periferia pela simples razão de que a área a cobrir (a órbita) aumenta exponencialmente. A frequência de eventos diminui, portanto. Há uma manutenção mais espaçada, menos eficiente e um nível de atenção menor que permite também uma maior manifestação de originalidade. O abandono lento, a maior permissividade criativa resultam numa manta de retalhos em que o contraste é matriz, e a estranheza é matéria. Dos lugares que deixamos de frequentar dizemos que ‘são mal frequentados’, das pessoas que deixamos de conhecer nasce o medo. E do medo nasce o marginal.

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