Ensaio

Luz e sombra

A natureza subjetiva da experiência humana tem expressão naturalmente, também na fotografia, em que realidade e ficção (reconhecimento ou construção?) são tão inseparáveis como o são a luz e a sombra.

A palavra

Pode a imagem chegar a onde não chega a palavra ou o inverso? Ou pisam terreno comum? Se, por uma lado, a palavra transporta consigo um amplo portefólio de referentes culturais, de imagens mentais, as fotografias são, por outro, como que frases soltas de um discurso fragmentado, parcial, incompleto, transitório. A ponte entre a palavra e a imagem é a metáfora.

Câmara Escura

Fotografar é contar uma história do avesso – primeiro o que aparece, depois o que está dentro, é uma procura de ecos surdos.

Alexandre

Uma casa, uma adega, quatro paredes onde Cristo e Baco se digladiam. Lado a lado as fotografias dos antepassados e os talismãs religiosos. O último suspiro de uma casa, de uma vida titubeante entre o trabalho, o vinho e a fé, entre o abandono e o esquecimento. O Avô Alexandre morreu.

Palco

É o sentimento de pertença o que melhor identifico no seu olhar. Os textos da peça dão voz a uma observação aparentemente naive da sociedade expressa numa linguagem de humor revisteiro, que vai sublinhando um conjunto de valores geracionais. “No meu tempo.. Nós, os menos jovens.. Velhos são os trapos.” Em que ponto é que a ingenuidade se transforma pela convicção da entrega, pelo contexto criado em criatividade esclarecida?

Sobre o Silêncio

Fotografo assíncrono dos eventos que dão propósito ao lugar, entre o último visitante e o próximo. Na sombra que se estende, tudo me parece abandono, esquecimento, tudo me parece insólito, num estado de latência ilusório, fora de tempo.

Fábrica de memórias

Os elementos visuais de um espaço, de uma paisagem, representam um papel fulcral na construção da familiaridade a que chamamos memória. A paleta cromática, a densidade rítmica, a distribuição vertical e horizontal das formas, assumem em cada lugar a singularidade de uma impressão digital.

O Tempo

A visão fotográfica é subtraída à nossa realidade concreta num decalque modulado pelo fotógrafo. A fotografia é refém do momento presente, mas este aspecto fulcral da sua natureza, não nos impede de representar o tempo nos seus vários humores, quer através dos recursos técnicos da câmara, quer pelos referentes culturais e de contexto, pela edição ou pela narrativa.

As flores

Mas acima de tudo, não fotografes as flores!

Apologia

As fotografias eram muito diferentes das idealizações heroicas dos desenhos e ilustrações com pontos de vista apenas possíveis na imaginação do artista. Os editores viam-se forçados a justificar-se perante os seus leitores, a justificar a fotografia.