Dou esta semana por terminado o ensaio fotográfico iniciado em dezembro de 2015 sobre o jardim urbano. Este ensaio constitui o primeiro capítulo do projeto Framed Nature, uma observação da relação do Homem com a natureza, da perpétua tensão entre o mundo natural e o imaginado, condição necessária da perspetiva dual da nossa existência.

Nestes seis anos estive em mais de 70 jardins públicos do concelho de Lisboa, o que se traduz num longo processo de aprendizagem sobre múltiplos aspetos, dentro e fora da fotografia. Das questões técnicas à linguagem lumínica, passando pela organização logística, gestão do tempo e energia – uma alternância focada, entre os momentos de observação e os de introspeção, na construção de uma narrativa fotográfica relevante.

O jardim urbano representa, na moldura que o separa da cidade, um instante de domínio sobre a natureza, de fixação. É o retrato latente do Paraíso perdido, do nosso habitat natural ancestral. 

Mas o medo da perda definitiva, a desconfiança, persistem. Talvez pela noção de que não é real, de que estamos perante uma encenação, inócuo palco onde contracenam distraidamente atores das várias classes sociais, marginais uns dos outros ou de si mesmos.