A segunda premissa da pesquisa fotográfica é comunicação com os outros. A Visão deriva do pensamento, e o pensamento é comum a todos. É necessário seguir o que é comum a todos, porque o que é comum é geral, para fortalecer a nossa Visão, para fortalecer o nosso discurso, a nossa narrativa. O fotógrafo deve dirigir a sua pesquisa, o seu olhar não só para si mesmo, não só para o mundo natural objetivo, mas também para aquilo que o liga aos outros, numa rendição ofuscada, evitando permanecer fixado de olhos apagados na sua imagem mental original, fictícia na sua imutabilidade. 

A fotografia vive da tensão, (o seu princípio criador), que se esconde na unidade aparente da composição. A discordância dos elementos, o confrontos dos opostos, os contrastes, são condição necessária,  inerente à física do próprio ato de ver, em que mundo real é moldado (revelado) pelo movimento constante da luz em torno dos objetos.

A tensão alimenta igualmente o pensamento (o tal que é comum a todos), alimenta a curiosidade. Sombra e Luz são um só, são o mesmo fenómeno, que nos vai fazendo girar pasmados.

Mas se o espanto é contemplação e a curiosidade é motor, que estrada é essa que nos leva sempre de volta ao Lugar comum? 

NOTA:
O presente ensaio (em duas partes) resulta de uma apropriação livre, distorcida de alguns textos relativos ao filósofo pré-socrático Heraclito. É um exercício absolutamente experimental em que uso a estrutura do texto original de Abbagnano, redirecionando a exposição para alguns conceitos que tenho vindo a apresentar sobre a natureza da fotografia. Aos aforismos e metáforas citados, junto alguns da minha autoria, replicando a terminologia original.

Neste como em qualquer dos outros textos e fotografias estou totalmente recetivo a opiniões e críticas, que podem deixar abaixo. 
Obrigado!