Revia há dias o mini documentário London Nights sobre a exposição homónima com curadoria de Anna Sparham (Londres, 2018). Vou hoje tecer um breve comentário analítico às palavras iniciais da curadora, à forma como apresenta a exposição e os conceitos subjacentes.
London Nights é uma exposição que junta as múltiplas abordagens que os fotógrafos (mais de 60 nesta edição) têm adotado na captura da noite em Londres. É um conjunto eclético de fotografias, que vai desde o retrato, ao documentário social passando pela fotografia de rua, refletindo diferentes aspetos da noite londrina que talvez conheçamos ou julguemos conhecer, mas que nos traz ainda assim elementos de surpresa.
Anna fala com entusiasmo do facto de ter lado a lado fotógrafos clássicos e contemporâneos, de ter na mesma parede trabalho desenvolvido com décadas de distância, evidenciando o contraste como tónica dominante da exposição como da cidade em si.
Estas simples observações preliminares, e em particular o entusiasmo que enunciam, revelam um dos principais aspetos da natureza da fotografia, desde a captura à produção: a sua elegância sintética radical. A fotografia na parede corresponde à materialização, à objetivação de realidades preceptivas, subtis, intangíveis. Dá-nos a proximidade e a subtileza do pensamento, da apreciação estética, e devolve-nos o toque.
Esta valência fundamental de síntese potencia a diversidade e o contraste (pela simples economia de meios) o que nos conduz a uma narrativa organicamente quebrada, como o é talvez o próprio processo de pensamento humano: uma sucessão de imagens de tempos diferentes acedidas, ordenadas num código emocional.
Esta proximidade crua entre a fotografia e alguns dos nossos processos psicológicos será a base da identificação visceral que sentimos perante algumas imagens. A ilusão de proximidade, de controlo e apropriação não estarão porém isentas.