A fotografia documental é, de certa forma, limitada no seu potencial narrativo, é acima de tudo descritiva, presa a uma verdade jornalística factual, neutra. É uma reflexão com alguma maturidade já, e sabemos hoje que a verdade tem muitas formas de se apresentar (tantas como a mentira) e o elemento interpretativo da narrativa vem sendo mais assumido por alguns canais.

Num mundo em que todos temos um microfone na mão (ou uma camara), nenhuma voz se faz ouvir, nenhuma voz de destaca – o ruído cresce exponencialmente e o feedback é ensurdecedor. Procuramos agora não necessariamente uma Verdade, mas alguém que nos guie, que saiba discernir o canto do pássaro no buzinar fervilhante da cidade. Procuramos compreender, interpretar e os candidatos a essa necessária curadoria são muitos.

Pessoalmente, acredito que as soluções mais valorativas assentam na pluralidade, das vozes (são necessárias afinal 3 notas para definir um acorde), das perspectivas (em que o ponto de vista de cada um cobre o ângulo cego do outro). Para fazer uma boa triangulação (das fontes, dos factos, das visões) é vantajoso (necessário) ouvir vozes diferentes ou mesmo dissonantes da nossa.

Regressando às referencias visuais, a fotografia tem, pela sua natureza, outras formas narrativas para além da descritiva. Essas formas estão desarredadas do léxico jornalístico, mas têm a meu ver um contributo importante a dar num mundo cada vez mais centrado na interpretação.

Todos queremos afinal, saber o papel que nos cabe.