O tema que deixo hoje para reflexão é A Instrumentalização da Arte.
Muitas vezes torna-se evidente, em estudos e observações várias, a relação entre a produção ficcional e o cultivo de determinados valores sociais. É possível, por exemplo, corelacionar através de estudos ad hoc as histórias e narrativas de uma determinada sociedade (os contos infantis, as lendas, as anedotas) e a matriz moral e psicológica de uma geração.
Tal constatação, conduz-nos a uma possibilidade tentadora: a de criar, em engenharia reversa, conteúdo, histórias e narrativas visando mudar hábitos e comportamentos, seja em torno de um valor social seja comercial. Nasce uma nova ferramenta, um novo instrumento.
Podemos de uma forma abrangente, relativista, argumentar que toda a produção cultural, que toda a narrativa tem esse intuito, esse potencial, começando pela própria educação, a publicidade, a política, a religião, a Arte. E que sempre foi assim, que a manipulação é um traço essencial e ancestral da cultura Humana.
Por outro lado, diria que a efetividade, o grau dessa manipulação, é intrínseco ao paradigma tecnológico de cada momento histórico, que deriva, de certa forma, da evolução dos meios de comunicação social. A rádio e a televisão foram os grandes protagonistas do Séc. XX, e é possível identificar múltiplos exemplos de produção sistematizada com intenção concreta, mensurável de alteração de comportamentos e valores.
A cultura evolui de forma orgânica e é quão mais diversa quanto mais livre. Mas a demanda determinista é também um traço ancestral da Cultura, e o nosso século oferece finalmente tecnologia à altura.
(continua)