Teatro de Marionetas, II

(Continuação)

Penso que há uma distinção a fazer entre manipular e conduzir, ainda que subtil. O segundo apresenta-se mais como um convite ou sugestão, um ato de sedução se quisermos, de liberdade.

Consideramos aqui que o objetivo comum a ambos é o de espalhar uma ideia (no sentido lato) de um indivíduo ou coletivo. É fundamental procurar perceber se essa ideia está alinhada com os valores dos seus autores ou se serve apenas um propósito utilitário ou de benefício próprio. Nesta destrinça é igualmente importante perceber se a ideia acrescenta valor ou se, pelo contrário, reduz a quem contamina.

A dificuldade em manter válidas as premissas acima está na subjetividade e limitações da perceção individual. Sim, podemos estar a causar o maior dos males, mesmo insuflados da melhor das intenções, ou até o inverso. Dirigimos o nosso foco portanto, para o ato deliberado. 

É possível (e talvez desejável) que a criação artística, a obra, integre, amplie os valores do seu autor. É possível até que esta fique detentora de valores que ultrapassam a própria autoria, de subtilezas da Alma humana, de conhecimento mudo extemporâneo.

A Arte não tem uma utilidade, tem um propósito. que se confunde com a própria existência. A obra deve viver na sua dialética intrínseca, na linguagem própria do seu meio específico. Não deve ter uma existência determinista, fechada ou puramente utilitária. Ao fazê-lo limitamos a obra e reduzimos o espectador.

O espectador é o interprete no qual se completa o gesto criativo e não apenas um recipiente neutro, um consumidor. A Obra (a verdadeira Arte) não sobrevive sem o interprete, a interpretação é a sua segunda vida. Se o que produzimos anula o interprete, estamos perante uma manipulação, mais distantes portanto da Arte.